Guitarra Portuguesa
Outubro
16
2020
O nascimento da Guitarra Portuguesa
“O instrumento musical a que hoje damos o nome de Guitarra Portuguesa apresenta uma série de traços característicos que resultam de um longo e complexo processo evolutivo. ” (Pedro Caldeira Cabral).
Inicialmente, na organologia da guitarra portuguesa, esta surge associada à Guitarra Inglesa, instrumento de grande divulgação nos salões europeus no séc XVIII, conhecida primeiro no Porto, provavelmente introduzida no país pela comunidade inglesa cá residente.
Assim, este cordofone de mão, piriforme, é montado com doze cordas metálicas, dispostas em seis ordens; o número de trastes varia entre 12 e 17, nas mais antigas, até 22 nas atuais. A 𝐆𝐮𝐢𝐭𝐚𝐫𝐫𝐚 𝐏𝐨𝐫𝐭𝐮𝐠𝐮𝐞𝐬𝐚 na sua versão 𝐝𝐞 𝐋𝐢𝐬𝐛𝐨𝐚 afina em Si Lá Mi Si Lá Ré.
A Guitarra Portuguesa no século XIX
Nas décadas de 1820 e 1830, a guitarra, outrora protagonista nos salões burgueses, passa a sobreviver somente nos meios proletários de Lisboa. Terá sido assim que se dá o primeiro encontro do cordofone com o 𝐅𝐚𝐝𝐨, canção que identifica na guitarra a expressividade ideal para evocar as tragédias, os episódios de vida pitorescos, as cenas do quotidiano, os amores e desamores cantados na lírica fadista. Nesta fase embrionária caracteriza-se pela informalidade e improvisação, sem indicação de autoria.
A partir do início do séc. XIX , é possível encontrar registos da designação “guitarra portuguesa”, num primeiro momento para referir em particular o modelo com 6 pares de cordas (seriam primeiramente 5), numa transformação que terá sido introduzida no instrumento já em Portugal. Já os primeiros instrumentos com as dimensões, estrutura mecânica e afinidade tímbrica com as atuais guitarras tiveram origem nos anos 20 do séc. XIX; os construtores mais afamados de então eram Augusto Vieira, António Victor Vieira, João Pedro Grácio Junior e Álvaro Marciano de Oliveira.
O Auge da Evolução, no século XX
As primeiras guitarras portuguesas com semelhanças físicas, mecânicas e tímbricas com as atuais tiveram assim origem nos anos 20 do séc. XX, com violeiros como Augusto Vieira, António Victor Vieira ou João Pedro Grácio Junior. Na mesma época, foram decisivas as contribuições de grandes executantes e compositores como Armando Freire Armandinho ou 𝐀𝐫𝐭𝐮𝐫 𝐏𝐚𝐫𝐞𝐝𝐞𝐬, este último inaugurando o estilo coimbrão. Mais tarde, na década de 40, o diálogo entre Paredes e Kim Grácio e o irmão João Pedro Grácio Junior levou ao apuramento de certas características mecânicas e à estabilização de formas para o modelo mais tarde denominado de Guitarra de Coimbra.
Desta forma, a Guitarra de Lisboa ou 𝐆𝐮𝐢𝐭𝐚𝐫𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐂𝐨𝐢𝐦𝐛𝐫𝐚 recebem estas designações pelas características sonoras e recursos expressivos diversos, apropriados ao repertório nelas executado. O guitarrista profissional de Lisboa procura uma execução mecânica perfeita e com bastante ressonância para que se ouça o particular 𝘷𝘪𝘣𝘳𝘢𝘵𝘰 do fado lisboeta, em Coimbra prefere-se um instrumento de maior volume sonoro (para o exterior, para as serenatas,…) timbricamente mais agudo e encordoado com mais tensão, apesar de afinado um tom abaixo do estilo de Lisboa, 𝐋á 𝐒𝐨𝐥 𝐑é 𝐋á 𝐒𝐨𝐥 𝐃ó.
Atualmente, os violeiros fabricam guitarras dos três tipos: 𝗣𝗼𝗿𝘁𝗼, 𝗟𝗶𝘀𝗯𝗼𝗮 e 𝗖𝗼𝗶𝗺𝗯𝗿𝗮.
Fonte: Pedro Caldeira Cabral | Rui Vieira Nery